Um livro de Café Filosófico

Não sei se ainda é moda, mas houve, assim como dos saraus, a época dos Cafés Filosóficos em São Paulo. Além de filosofia, propriamente, muitos outros assuntos poderiam ser debatidos, como psicanálise, sociologia, atualidades ... desde que fosse uma prosa gostosa, mas também pertinente.

O livro Café Philo de Le Nouvel Observateur - as grandes indagações da filosofia traz artigos curtos de um café filosófico francês. As grandes indagações cobrem áreas como Natureza, Amor, Estado, Memória, Razão, Responsabilidade, Liberdade ... Ao todo são 18 temas, cada qual com a exposição de um estudioso de filosofia, e um pequeno texto adicional sobre o filósofo ou filósofa referenciados. 

É um livro de Jorge Zahar Editor traduzido para o português, já meio velhinho, mas atual. 

Em clima de férias, resolvi reler e escolhi um dos temas, Razão. O apresentador é Gianni Vattimo, filósofo italiano que propôs o conceito de pensiero debole (pensamento fraco). O texto de cada tema é bem curto, cerca de quatro páginas. 

Vou parafrasear. Vattimo fala sobre o enfraquecimento da diferença entre razão e não razão no século XX. Por exemplo, um formalismo como o de Wittgenstein no Tractatus Logico-Philosophicus não é um totalitarismo da razão, pois mostra seus limites. 

Hegel foi quem ainda tentou promover o totalitarismo da razão, como agregação de todas as diferenças, a partir da síntese dialética. Em Hegel, a razão totalizante realizava-se no Estado. Esse pensamento totalizante influenciou o marxismo, que permaneceu, no século XX, como bastião da ideia totalizante da razão.

Mas na pós-modernidade isso se enfraquece, como mostrou Lyotard, que apontou para o fim das meta-narrativas, das explicações totalizantes como o marxismo. 

A antropologia estrutural, por sua vez, mostrou a racionalidade plural de várias culturas, que têm suas organizações "lógicas" próprias - reveladas nas relações estruturais.

Os fundamentalismos, por outro lado, são mera tentativa tosca e oca de recuperar a totalidade da razão de maneira unilateral.

Já os filósofos devem continuar a mostrar que a razão é plural e "distribuída".

Mas, para Vattimo, a eficácia desses arautos é fraca.

O que me parece: as contradições não vão se resolver só nas mentes individuais ou nos discursos, mas em mudanças reais, seja pelas tecnologias, seja pelas mudanças econômicas e materiais, políticas, etc. Todos esse fundamento material muda junto com os discursos. Discursos, assim, não são só palavras, frases, textos. São palavras (etc.) mais corporeidade de posições e condições, mais concretudes e suportes de materialidade. 

Pois bem, esse resumo-paráfrase foi para dar um exemplo de como os temas são apresentados no livro. 

Em suma, para cada tema há um texto curto, mas abrangente. Parecem bons para usar como estímulo de debate em aulas de graduação, como um aquecimento para o tema do dia. 


E.S.  




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